2.3.12

Samba-enredo do meu Carnaval

Como a grande maioria dos brasileiros, a espera pelo carnaval é inquietante. Passado os festejos natalinos e do ano novo, o carnaval e tão ansiosamente aguardado, que uma contagem regressiva é estabelecida. Contagem regressiva para a festa da alegria, talvez a manifestação mais genuinamente brasileira, em que os problemas são deixados de lado abrindo alas para a felicidade, que é compartilhada por uma nação inteira. Ah carnaval! Um dos poucos momentos de alegria e satisfação plena. Ruas inteiras tomadas por pessoas fantasiadas dos mais diferentes tipos. Dançando todas ao som da mesma música, muitas vezes brega, é claro, mas quem importa? Ninguém! Afinal, a ideia de todos ali é a de se entreterem, de deixar a fantasia assumir a realidade e de serem apenas mais um personagem no enredo da alegria.

A nostalgia parece tomar conta de mim ao tentar descrever os antigos carnavais. As matinês das tardes de domingo, já eram tradição. Nos antigos bailes de Pierrô e Colombina todas as crianças iam fantasiadas, acompanhados pelos pais, para os clubes em que as marchinhas embalavam a todos. Com o passar dos anos, eu já não era o mesmo. A adolescência trouxe à tona uma nova leva de sentimentos. Passamos a compreender o quão difícil à vida é. A responsabilidade, acompanhado das cobranças começa a fazer parte de nossas vidas. Diante desse cenário, o enredo toma um novo caminho. O carnaval já não é o mesmo de outrora, passa a ter um significado: deixar a rotina de lado, mesmo que durante apenas uma semana. As ruas de Salvador, tomadas por gente de todas as partes, recebem mais uma família, que aproveita a data para o reencontro com familiares e para brincarem na folia.

Era dessa forma que o clico se repetia a cada ano. No entanto, a vida reserva para nós situações as quais não esperávamos nos deparar tão cedo. Foi assim, tão repentino como uma chuva de verão, que a minha família recebeu uma triste notícia. O patriarca da família estava com câncer de pulmão, que, já em processo de metástase tem o tratamento apenas como um paliativo para proporcionar uma melhor qualidade de vida no restante do indeterminado tempo de vida. Justo no ano em que o carnaval teria um sabor especial, seria a libertação de um ano cansativo que insistia em não me abandonar. Mas a vida tem dessas coisas não é? E a eminente morte do meu avô, mesmo desconhecendo quando irá se concretizar, parece sugar as minhas energias. De repente, parece ruir a estrutura da família.

 Com isso o carnaval passou, e enquanto outros aproveitavam as festas, minha família curtia meu avô. Aproveitamos a oportunidade para nos cercamos de carinhos e assim tentarmos juntos, unir os cacos. E é dessa forma que o samba-enredo do meu carnaval está desenrolando. O amadurecimento faz parte da existência humana, e esse foi a maior aprendizagem que levei desse carnaval.

Gustavo Carvalho e Brenda Oliveira
Postado por Clarice Lispector às 08:33

0 comentários:

Postar um comentário